O ano era 2004. O cineasta João Jardim e a jornalista Renée Castelo Branco, produziam o documentário “Pro Dia Nascer Feliz“. Durante a gravação do longa-metragem, um fato chamou a atenção do cineasta. Trata-se da história de Sebastião Antonio de Araújo, mais conhecido como Tião. Nesta época, Tião – hoje empreendedor social – era inspetor de uma escola na Maré.
Dos 18 aos 30 anos de idade, Tião não teve uma vida nada fácil. Ele foi parar no tráfico. “Um dia disseram que comigo não tinha jeito. Pau que nasce torto morre torto“, revela. Porém, após diversas más experiências, Tião decidiu redirecionar seu caminho. Ao ser perguntado qual o momento crucial que fez com que abandonasse o tráfico, Tião destaca: “Queria ver a minha filha Tatiana crescer. Por esse motivo, decidi seguir uma vida honesta“.
O cineasta e a jornalista apresentaram Tião ao CEO do Instituto da Criança – Pedro Werneck. O encontro aconteceu durante um bate-papo em um bar da Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro. Pedro, também sensibilizado com a história, não mediu esforços em ajudá-lo. Criou-se, assim, uma amizade entre os dois. Tião revelou o desejo em abrir uma ONG que tivesse como objetivo tirar jovens da marginalidade. Mais tarde, essa organização ganhou o nome de Vida Real.
Em seguida, Pedro convidou Tião para conhecer a Reunião Social – hoje Egrégora Social – realizada pelo Instituto da Criança – IC. Os encontros eram realizados todas as segundas-feiras, no Leblon – Zona Sul do Rio de Janeiro com o objetivo de desenvolver a troca de conhecimento e experiência entre as instituições que fazem parte da rede do IC. Na ocasião, Tião contou sua história e o desejo de abrir uma organização não-governamental. Mal sabia Tião que, a partir daquele momento, sua vida daria um salto. Foi então que um grupo – formando pelo IC, Paulo Carlarge, César Linch – então membros do conselho consultivo do IC, o cineasta João Jardim, a jornalista Renée Castelo Branco, a escritora Luciana Savaget, além das empresárias Ângela Reis e Ana Letícia Lacerda – se uniu para formalizar o Instituto Vida Real. Este grupo, por sua vez, ficou responsável por realizar o pagamento do aluguel da casa, além de custos administrativos e operacionais. O Instituto Vida Real ganha sua primeira sede.
Localizada no Complexo da Maré, Zona Norte do Rio, a organização já inaugurou com 50 alunos em situação de risco social. Nela, atividades como grafite, pintura, informática e música foram desenvolvidas. Posteriormente, a demanda aumentou ainda mais, o que fez com que o Instituto Vida Real ficasse neste espaço por apenas quatro meses. Desta forma, houve a necessidade em procurar um espaço maior que pudesse atender mais jovens, fazendo com que o Vida Real mudasse de local, na mesma região. Vale destacar que cerca de 10.000 jovens já foram beneficiados pela ONG.
Com as atividades exercidas no Vida Real, um menino chamou atenção devido ao seu talento. Pedro Paulo Pereira mostrava seu dom pela pintura. A dedicação era tanta que o Instituto da Criança decidiu apoiá-lo. Através do artista plástico, Daniel de Souza, o IC arcou com as aulas para o adolescente no curso do professor Renato Ferrari. Com o conhecimento adquirido, Pedro Paulo passou a dar aulas no Vida Real. O jovem se tornou um promissor artista hiper-realista e, hoje, dá aulas no estúdio do artista Renato Ferrari, em Copacabana, Zona Sul do Rio.
Atualmente, o Instituto Vida Real está em sua terceira sede desde a formalização, em 2004. No dia 16 de março deste ano, a instituição comemorou 15 anos de atividade inaugurando sua nova sede, na Nova Holanda/Maré. Decorada com grafites dos alunos, a unidade está pronta para receber até 600 jovens por dia nos seus 700 metros quadrados de salas de aula, biblioteca, refeitório e administração. A inauguração contou com a participação da orquestra formada pelos alunos de música. Pedro Werneck, presidente do IC, a escritora Luciana Savaget e o empresário Paulo Calarge também compareceram ao evento. Ao ser perguntado o que o IC representa para o Vida Real, Tião, hoje aos 56 anos, destaca: “o Instituto da Criança é a mãe do Vida Real“.
Instituto da Criança
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